quarta-feira, 6 de maio de 2015

A História de Silverthorn - Segunda Parte

Confira a abaixo a segunda parte da história que começou a ser contada aqui.



Silverthorn Storybook

A história de Silverthorn -  Segunda Parte

Os dias que se seguiram foram embaçados e sem sentido. Chuva, Tristeza, Luto e Lagrimas. Vizinhos se unindo em um grupo de busca. Nossa mãe colapsou quando ninguém foi capaz de encontrar e retornar com Jolee. Pessoas de luto indo e vindo a nossa casa. O olhar vago nos olhos de nosso pai. Mas o pior de tudo era o silêncio. Mamãe não tocava o violoncelo e a voz doce de Jolee não estava mais cantando alguma melodia feliz. Dezenas de pessoas nos perguntavam o que tinha acontecido. Mas Robert e eu simplesmente olhávamos fixamente um para o outro e dizíamos que não sabíamos. Nenhum de nós se atrevia a falar o que realmente tinha acontecido. Nós certamente seriamos punidos além dos nossos limites, nós temíamos.

Não podíamos suportar a idéia de sermos odiados e culpados por nossos pais em cima da perda e do luto que estávamos todos compartilhando. Isso seria insuportável.  No dia do funeral, palavras de conforto foram oferecidas, mas não há conforto para as almas que foram jogadas no poço da desesperadora perda. Também não parecia certo, por que não havia um corpo físico lá, foi tudo tão surreal. De qualquer forma a morte é um conceito tão difícil de entender, mas parece abstrata e cruel se nenhum fim é oferecido através da visão do seu amado em um estado inanimado. Nós nos sentimos amaldiçoados.  A ultima oração estava sendo feita e as coisas estavam chegando ao fim. Foi quando ouvimos; a mais doce e abandonada melodia, chorando do violoncelo de nossa mãe.  Nós já tínhamos escutado elas antes, no entanto, foi ainda mais triste e apaixonada neste momento. O ministro fez uma pausa de espanto e temor, porém, continuou a oração com mais sinceridade e emoção. Esse foi o fim. E depois esse foi o início.

Minha vida é composta de vários furos. Vazios. Profundos. Espaçados. Ocos. Existe aquele que foi deixado quando Jolee se foi naquela curva do rio. Um determinado espaço foi criado pela culpa do segredo que Robert e eu mantínhamos sobre o ocorrido naquele dia. Existem buracos no tempo que eu simplesmente perdi quando não consigo me lembrar onde eu estive ou o que eu fiz. E há um buraco que cresce cada vez que eu ouço minha mãe tocar a assombrada melodia, a melodia que se tornou canção tema de nossa família para a tragédia. Nos meses seguintes a morte de Jolee nossa mãe se tornou cada vez mais retraída e nosso pai procurou consolo no álcool. Comecei a me perder em livros e Robert queria passar mais tempo fora de casa com os novos amigos que ele estava fazendo. Ambos, no entanto fomos atraídos para o violoncelo. Jolee tinha a afinidade de nossa mãe para o violoncelo e se mostrou uma promessa de prodígio, então nós sentimos quase uma obrigação de tocar também, para compensar a sua ausência. Sempre que a nossa mãe não estava praticando no pavilhão, um de nós ia ficando mais familiarizado com o instrumento.

Robert parecia especialmente talentoso e a primeira vez que a mãe sorriu desde a tragédia foi quando todos nós escutamos ele terminar uma peça particularmente difícil, era uma favorita de Jolee. Anos se passaram e todos nós caímos em nossas rotinas. Apesar de todos nós termos andado o mesmo insignificante caminho nebuloso desde que a nossa jóia partiu nós acabamos de todas as outras formas nos distanciando, crescendo separados um do outro. Eu estava cada vez mais estudioso, enquanto Robert se rebelou contra todos os convencionalismos. Nossa mãe ficou quieta, triste e doce enquanto nosso pai se tornou cada vez mais barulhento, desagradável e violento. Nosso pai também descontou a sua agressividade em meu irmão que se fez de alvo fácil, chegando em casa tarde, sendo mal humorado na escola e confraternizando com más companhias. Parecia que a raiva do pai era o fogo nos seus punhos e a carne e osso de Robert era a água para apagar esse fogo.

Cada vez que o pai precisava sufocar a chama dos seus punhos, mamãe pegava o Silverthorn e tocava sua trágica canção no pavilhão, abafando os prantos de Robert. Isso aconteceu tantas vezes que eu me tornei insensível, atraindo-me em um dos meus buracos para me consolar com o vazio que era oferecido lá. Então, como se alguém tivesse estalado seus dedos para a maré entrar, as mortes começaram. Tudo começou com uns primos nossos, cada um no lado da família da mãe e do pai. Depois tias e tios. Mês a mês e um por um, haveria notícias de um acidente estranho e bizarro que reivindicou outra vida. Nós fomos amaldiçoados e ninguém entendia o que estava acontecendo. Todos estavam tensos e mortificados por que a morte se aproximava a cada dia. Mas eu e Robert entendíamos. Isso era nossa obra. Karma foi um agente que exigiu o reembolso e este era o momento para a nossa retribuição. Em cada funeral, a mãe emprestava seus talentos para lamentações e tocava sua canção, que se tornou canção de todos. Em algum lugar próximo ao sexto funeral nosso pai teve uma explosão de agressividade e bateu tanto em Robert que eu teria certeza que ele seria o sétimo a ser enterrado. Aquela noite quando ele deitou em sua cama, todo inchado e ensanguentado, ele me disse que partiria. Na próxima semana faríamos 17 anos e já éramos homens crescidos. 

Crescidos o suficiente para poder deixar o abominável poço de desespero que nossa família passou a ser, de acordo com Robert. Ele acreditava que essa era a única maneira de quebrar a influência da maldição e restaurar um senso de equilíbrio para a família. E se o equilíbrio não fosse restaurado, ele seria condenado, se ele ficasse para dar o testemunho. No entanto, uma questão ainda precisava ser resolvida antes que ele faça a sua partida. A questão de o que tinha acontecido com Jolee. Desde aquele dia nós nunca falamos uma palavra do que havia acontecido e ambos juramos de novo e em voz alta que o nosso segredo permaneceria conosco até os nossos túmulos. Mas palavras não eram suficientes. Palavras nunca são o suficiente. Nosso segredo exigia mais. E, assim, marcou o outro pacto com cicatrizes dolorosas, tão horríveis e desfiguradas para nossos corpos quanto têm sido os nossos espíritos por todos esses anos, Nós marcamos nossos corações com a palavra que tememos mais do que qualquer outra coisa: a verdade. Veritas.

To be continued...
Continua...

Confira a música Veritas:

 



Clipe de Sacrimony:


Ouça Song for Jolee:



Fonte: http://realm0of0darkness.blogspot.com.br/2012/11/silverthorn-storybook.html
e storybook da edição de luxo do álbum Silverthorn

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